1. O que é o “Shemen HaMishchá” – Óleo da Unção?
O óleo da unção (שֶׁמֶן הַמִּשְׁחָה) é chamado nos textos sagrados de Shemen haMishchá haKodesh – o óleo da unção sagrada. Ele é mencionado inicialmente em Shemot 30:22–33, onde a Torá dá as instruções exatas da composição e uso desse óleo.
Composição (segundo a Torá):
500 shekel de mirra pura
250 shekel de cinamomo aromático
250 shekel de cana aromática (kaneh bosem)
500 shekel de cássia
Misturados com 1 hin de azeite de oliva
Este óleo era feito uma única vez na história — e segundo a tradição, durou milagrosamente por todas as gerações até a destruição do Primeiro Templo.
Versículos base:
וּמִן־הַמִּקְדָּשׁ לֹא יֵצֵא וְלֹא יְחַלֵּל אֵת מִקְדַּשׁ אֱלֹהָיו כִּי נֵזֶר שֶׁמֶן מִשְׁחַת אֱלֹהָיו עָלָיו אֲנִי יְהוָה׃
Transliteração:
Umin-haMikdash lo yetze, velo yechallel et mikdash Elohav, ki nezer shemen mishchat Elohav alav – Ani Adonai.
Tradução:
“Ele não sairá do santuário, e não profanará o santuário do seu Elohim; porque a coroa do óleo da unção do seu Elohim está sobre ele. Eu sou YHWH.”
(Vaikrá/Levítico 21:12)
2. O que tornava esse óleo “distinto” das outras unções?
A) Origem Divina e Fórmula Exclusiva
Ao contrário dos óleos comuns usados em hospitalidade, cura ou purificação, o Shemen HaMishchá foi dado diretamente por HaShem a Moshe com a advertência clara:
“Não se fará nenhum outro semelhante a este, com esta composição. É sagrado, e sagrado será para vós.” (Shemot 30:32)
Segundo a Guemará (Kereitot 5a), qualquer pessoa que tentasse imitar sua fórmula era culpada de uma transgressão capital, mostrando que esse óleo era único e inviolável.
B) Finalidade Espiritual Altíssima
Este óleo não era para bênção apenas. Era para santificação e separação, ou seja, para “havdalá” — o ato de separar o comum do sagrado. A palavra-chave em Vaikrá 21:12 é:
“נֵזֶר שֶׁמֶן מִשְׁחַת” – Nezer shemen mishchat Elohav”
“A coroa do óleo da unção de seu Elohim”
Aqui, a palavra “nezer” (נֵזֶר) – coroa – é a mesma usada para descrever a coroa de separação dos nazireus (como Shimshon). Isso indica que o óleo não apenas consagrava o Kohen HaGadol, mas investia nele uma autoridade espiritual visível, como se uma coroa invisível pairasse sobre sua cabeça.
O Talmud em Horayot 12a ensina que o Kohen HaGadol era distinguido de todos os homens por três elementos:
O óleo da unção (quando havia)
As roupas sagradas exclusivas
E a dedicação total ao Mikdash
C) Carregava o Nome Inefável
Segundo o Zohar (Vayikra 28a) e os escritos do Ramban, o óleo da unção continha kavanot espirituais (intenções místicas) e o próprio Nome de HaShem era invocado sobre ele por Moshe.
Isso transformava o óleo em um canal de presença divina (Shechiná). Ungir com esse óleo era literalmente como marcar alguém com a luz do Eterno. Por isso o Kohen HaGadol não podia sair do santuário — ele era como uma “menorá viva” carregando o fogo do altar em si.
3. Yeshua e a unção “não feita por mãos humanas”
No contexto da liderança espiritual natzratim, Yeshua é visto como o Kohen HaGadol eterno segundo o modelo de Malki-Tzedek (cf. Sefer Ivrim/Hebreus 7:17).
Ele não foi ungido com óleo físico no Templo, mas com Ruach HaKodesh diretamente, como diz:
“O Ruach do Eterno está sobre mim, porque me ungiu para…” (Ma’assei Yehoshua 4:18, citando Yeshayahu 61:1)
Ou seja, o óleo da distinção do Kohen HaGadol era um tipo (hebraico: mashal) de algo ainda maior:
A presença constante da Shechiná sobre um servo fiel.
4. Aplicações para os dias atuais: Existe essa unção hoje?
Hoje, não se faz mais o óleo da unção, pois:
Não há Mishkan nem Beit HaMikdash;
A linhagem dos kohanim não é confirmada com segurança;
E os recipientes sagrados originais não estão presentes.
No entanto, a unção espiritual ainda existe — como uma presença manifesta de santidade em quem vive separado para HaShem, segundo o modelo dos talmidim. O Kli Yakar comenta que a unção pode ser percebida em atos de pureza, humildade, serviço e liderança santa.